João (II)
(continuação)
Os dias passaram. Maria mal se apercebia deles, quase sempre demasiado bêbada para isso. Quantas vezes João chorava de fome, simplesmente porque a mãe se esquecera de lhe dar de comer. Outras vezes, do fundo da sua quase inconsciência, Maria ouvia, como se fosse muito ao longe, um choro infantil e dava-se conta, por breves momentos, que tinha um ser a seu cargo. Mas sentia-se sempre demasiado zonza para fazer o que quer que fosse.
Era a avó quem satisfazia as necessidades do bebé. Mas a velha senhora, manca, com os movimentos cada vez mais presos e uma memória que já não era a mesma de antigamente, mal podia tratar de si e era com muito esforço, arrastando-se quase, que tentava alimentar e mudar as fraldas ao neto. Fraldas de pano branco, que depois tinha de lavar no tanque de água fria, abrindo gretas horríveis nos dedos, que demoravam uma eternidade a sarar. As fraldas descartáveis não existiam. Máquinas de lavar roupa era uma ideia para si remota. Não viveria o suficiente para as ver.
João cresceu. De tão habituado ao cheiro nauseabundo a vinho que a mãe exalava, já nem o sentia. Cresceu entre garrafões e garrafas de vinho rasca, porque era mais barato e com o mesmo dinheiro Maria podia comprar mais. E assim chegou aos sete anos.
(continua)
Os dias passaram. Maria mal se apercebia deles, quase sempre demasiado bêbada para isso. Quantas vezes João chorava de fome, simplesmente porque a mãe se esquecera de lhe dar de comer. Outras vezes, do fundo da sua quase inconsciência, Maria ouvia, como se fosse muito ao longe, um choro infantil e dava-se conta, por breves momentos, que tinha um ser a seu cargo. Mas sentia-se sempre demasiado zonza para fazer o que quer que fosse.
Era a avó quem satisfazia as necessidades do bebé. Mas a velha senhora, manca, com os movimentos cada vez mais presos e uma memória que já não era a mesma de antigamente, mal podia tratar de si e era com muito esforço, arrastando-se quase, que tentava alimentar e mudar as fraldas ao neto. Fraldas de pano branco, que depois tinha de lavar no tanque de água fria, abrindo gretas horríveis nos dedos, que demoravam uma eternidade a sarar. As fraldas descartáveis não existiam. Máquinas de lavar roupa era uma ideia para si remota. Não viveria o suficiente para as ver.
João cresceu. De tão habituado ao cheiro nauseabundo a vinho que a mãe exalava, já nem o sentia. Cresceu entre garrafões e garrafas de vinho rasca, porque era mais barato e com o mesmo dinheiro Maria podia comprar mais. E assim chegou aos sete anos.
(continua)
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