Diálogo a três vozes (IV)
(continuação)
«Porto, Sábado, 31 de Janeiro de 1942
Querida Maria,
Mais uma carta. Mais uma entre tantas, ou talvez não. Esta pode ser diferente de todas as outras. Aliás, vai ser diferente.
Podia continuar a esconder-me por trás da cobardia das cartas anónimas, mas que frutos obteria com isso? A certeza da incerteza. Podes gostar das palavras que te escrevo e do que elas significam, mas o amor não se constrói de palavras, antes de sentimentos: sentimentos recíprocos. Quem me diz que vais amar-me? Só o posso descobrir se souberes quem sou. E é isso que te quero dizer hoje.
Chamo-me Luís. Luís Pedro Batalha. Não sei se me conheces. Sou aquele rapaz alto e entroncado que costuma estar sentado no banco do jardim. Não costumas olhar muito para mim, pois não? Compreendo.
Não sei se percebes, mas a mim dói-me muito o facto de gostares das palavras e não gostares da pessoa. Que lógica é que há nisso? Se eu sou aquilo que escrevo e escrevo aquilo que sou, como é que podes gostar daquilo que escrevo e não gostar daquilo que sou? Mas, realmente, se nunca falámos, também, de que é que estou à espera?
Maria, eu não sei o que esperar de ti, de nós, e o resultado é o desespero. Eu faço o que for preciso. Vou falar com os teus pais e pedir autorização para namorar contigo, queres?
(O que é que estou para aqui a dizer? Provavelmente, nem queres nada comigo.)
Desculpa o atrevimento de te escrever. Desculpa o atrevimento de te tratar por “tu”. Desculpa amar-te tanto...
Mesmo que não queiras nenhuma relação comigo, dá-me ao menos um sinal de que leste isto. Um olhar, um gesto, uma palavra. Por favor.
Luís Batalha»
Querida Maria,
Mais uma carta. Mais uma entre tantas, ou talvez não. Esta pode ser diferente de todas as outras. Aliás, vai ser diferente.
Podia continuar a esconder-me por trás da cobardia das cartas anónimas, mas que frutos obteria com isso? A certeza da incerteza. Podes gostar das palavras que te escrevo e do que elas significam, mas o amor não se constrói de palavras, antes de sentimentos: sentimentos recíprocos. Quem me diz que vais amar-me? Só o posso descobrir se souberes quem sou. E é isso que te quero dizer hoje.
Chamo-me Luís. Luís Pedro Batalha. Não sei se me conheces. Sou aquele rapaz alto e entroncado que costuma estar sentado no banco do jardim. Não costumas olhar muito para mim, pois não? Compreendo.
Não sei se percebes, mas a mim dói-me muito o facto de gostares das palavras e não gostares da pessoa. Que lógica é que há nisso? Se eu sou aquilo que escrevo e escrevo aquilo que sou, como é que podes gostar daquilo que escrevo e não gostar daquilo que sou? Mas, realmente, se nunca falámos, também, de que é que estou à espera?
Maria, eu não sei o que esperar de ti, de nós, e o resultado é o desespero. Eu faço o que for preciso. Vou falar com os teus pais e pedir autorização para namorar contigo, queres?
(O que é que estou para aqui a dizer? Provavelmente, nem queres nada comigo.)
Desculpa o atrevimento de te escrever. Desculpa o atrevimento de te tratar por “tu”. Desculpa amar-te tanto...
Mesmo que não queiras nenhuma relação comigo, dá-me ao menos um sinal de que leste isto. Um olhar, um gesto, uma palavra. Por favor.
Luís Batalha»
(continua)
1 Comments:
"Se eu sou aquilo que escrevo e escrevo aquilo que sou, como é que podes gostar daquilo que escrevo e não gostar daquilo que sou?" Chocada com a beleza disto. Tenho dito. *
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