Diálogo a três vozes (VIII)

(continuação)

Imaginaste? Este era eu. Luís Pedro Batalha. Profissão: escritor. Foi um sonho que morreu prematuro. É por isto que sou um frustrado. Porque me tornei engenheiro civil. Porque troquei as Letras pelas Ciências. Troquei o Português pela Física e pela Matemática. Nunca consegui levar o meu único sonho avante e estou demasiado velho para o fazer, agora.

João, há muitos anos atrás, escrevi uma história (sempre fui um bocado complexado em chamar-lhe livro). Só alguns amigos, os melhores, a leram. Agora, finalmente, chegou a tua vez.
Vou rescrevê-la, porque, quando me recusaram a publicação, rasguei-a aos bocados e peguei-lhe fogo. Mas não a esqueci, que não se rasgam nem queimam memórias, por muito que, às vezes, apeteça fazê-lo. E acho que é melhor adaptá-la aos dias de hoje, não?
Mas estou cansado e já é tarde, não vale a pena começar hoje. Acho que vou dormir e amanhã recomeço.

(continua)